O Meu Encontro com o Estoicismo
Recordo-me bem da primeira vez que me deparei com o estoicismo. À primeira vista, pareceu-me algo aborrecido: trabalha, fortalece-te — e alcançarás a felicidade. Mas felicidade... nem sinal dela.
Até que, ao reencontrá-lo mais tarde, decidi prestar-lhe a atenção merecida. Dizer que o estoicismo mudou a minha visão da vida é pouco. Fiquei verdadeiramente surpreendido ao perceber que, durante todo esse tempo, não via a simplicidade essencial da existência. Mais concretamente, que muitos dos mal-entendidos da vida poderiam ter sido evitados apenas mudando a minha atitude perante eles.
«Aceita o que o destino te oferece, e ama de todo o coração as pessoas que ele coloca ao teu lado.»
— Marco Aurélio
O Que é o Estoicismo?
O estoicismo é uma filosofia sobre como viver correctamente num mundo que nem sempre é justo. Ensina-nos a não desesperar por aquilo que está fora do nosso controlo, mas sim a cultivar coragem, clareza mental e dignidade, vivendo em harmonia com a natureza e as suas leis.
Apesar de terem passado mais de 2300 anos desde a chegada de Zenão a Atenas e da fundação deste ensinamento de equilíbrio interior, o estoicismo mantém-se actual. A razão é simples: não assenta em especulações abstractas, mas num profundo entendimento da natureza humana.
Costuma dividir-se o estoicismo em três ramos principais:
• Lógica — a capacidade de pensar com clareza, distinguindo o verdadeiro do falso.
• Física — a visão do universo como um todo vivo, regido por leis naturais.
• Ética — a arte de viver bem, com dignidade e segundo princípios.
Os próprios estoicos comparavam a sua filosofia a um pomar: a lógica seria a cerca, a física as árvores, e a ética os frutos — a razão de ser de tudo. Hoje, falamos sobretudo da ética — de como viver em harmonia com a natureza, com a sociedade e, acima de tudo, connosco próprios.
As Pedras Angulares do Estoicismo
Como qualquer filosofia, o estoicismo assenta em ideias fundamentais — conceitos que a definem e a distinguem. Vejamos quatro princípios estoicos que continuam a ter aplicação prática nos dias de hoje.
Amor fati — Amar o destino
Ama o teu destino, seja ele qual for. Ao longo da vida, todos encontramos tanto alegrias como dores — e ninguém está imune a isso. Os estoicos compreendiam que o destino é algo fora do nosso controlo. Lutar contra ele é inútil. Só nos resta aceitá-lo — e, idealmente, aprender a amá-lo.
A ideia de amor fati nasce da distinção fundamental do estoicismo: entre aquilo que controlamos e aquilo que está além do nosso poder. Pensemos em quantas vezes nos preocupámos inutilmente com o que não podemos mudar: um voo atrasado, o tempo que mudou, o chefe que nos sobrecarregou de trabalho. Em todas essas situações, somos impotentes. Mas há sempre uma escolha: a forma como reagimos.
Os estoicos insistiam que os acontecimentos não são bons nem maus por si mesmos — apenas se tornam assim por meio da nossa avaliação. Tomemos o exemplo do voo: se o seu voo for atrasado, passará algumas horas à espera. É desagradável, mas suportável. Agora imagine outra situação: chegou tarde ao aeroporto e, se o voo tivesse saído a horas, teria perdido o avião e esperado dez horas pelo próximo. Nesse caso, o atraso foi uma sorte.
Portanto, não existem acontecimentos «estaticamente negativos» ou «positivamente garantidos». Tudo depende da nossa mente. Ao aceitar — e até amar — o nosso destino como ele é, deixamos de desperdiçar energia a lutar contra o inevitável, e concentramos a atenção no que realmente está ao nosso alcance: os nossos pensamentos e acções.
Memento mori — Lembra-te da morte
À primeira vista, esta expressão soa sombria. Mas os estoicos não a usavam para incutir pessimismo, e sim como um lembrete: todos somos mortais. O ser humano moderno tende a viver como se o tempo fosse infinito, esquecendo-se de que a vida tem um fim.
Memento mori apela à consciência da nossa finitude. Somos apenas um instante face à vastidão da história. E essa verdade não deve assustar-nos — deve ajudar-nos a valorizar cada dia vivido.
Reparemos na diferença: uma pessoa saudável planeia o futuro e adia o essencial para «depois». Já alguém gravemente doente, consciente da sua limitação, tenta aproveitar cada instante. Na verdade, todos estamos nessa condição — só que nem sempre nos damos conta. Ninguém nos garante que veremos o amanhã.
«Estamos mais frequentemente assustados do que feridos; e sofremos mais na imaginação do que na realidade.»
— Séneca
É aqui que está o sentido: ao lembrarmo-nos da inevitabilidade da morte, começamos a viver de verdade. A saborear cada respiração, a valorizar as pessoas à nossa volta, a fazer o que importa — sem adiar.
O Sentido da Vida — A Virtude
Independentemente do estatuto social ou financeiro (o estoicismo foi praticado tanto por Marco Aurélio, imperador, como por Epicteto, um antigo escravo), todos os estoicos viam na virtude a única fonte genuína de felicidade.
As quatro virtudes supremas eram: coragem, justiça, sabedoria e moderação. Eram elas que determinavam se uma vida era bem vivida ou desperdiçada.
O ideal era o sábio — alguém que viveu em harmonia consigo e com o mundo, cultivando todas estas qualidades. Para os discípulos, os modelos eram Zenão ou Sócrates — não apenas mestres, mas faróis que iluminavam o caminho de uma vida íntegra.
Agora pense: quão mais rica pode ser a sua vida se fizer da virtude o guia das suas acções diárias? Recorde-se de um momento em que foi corajoso, justo, generoso ou prestável. Não sentiu uma alegria genuína? Não viu o impacto positivo que teve nos outros?
As boas acções não custam nada, mas podem mudar o mundo — e transformar-nos também. Ao ajudar os outros, tornamo-nos melhores, mais fortes e mais felizes. E não será esse o verdadeiro sentido da existência?
Somos o Nosso Espírito — A Única Coisa que Realmente Possuímos
A única coisa que verdadeiramente nos pertence é o nosso espírito. A sabedoria estoica recorda-nos: o corpo pode ser subjugado, os bens confiscados, os laços quebrados — mas os nossos pensamentos e atitudes permanecem sob o nosso controlo.
Voltemos ao memento mori: após o nascimento, nada nos é garantido — excepto a nossa mente. Não é a casa, nem o carro, nem sequer a família — tudo isso pode desaparecer. Por isso, não devemos apegar-nos ao que é frágil e passageiro. O que verdadeiramente importa é o cultivo do espírito e da sabedoria — bens que nos acompanham sempre.
Exemplos não faltam. A casa pode ser penhorada, o carro roubado, os relacionamentos desfeitos. Até o corpo pode falhar com a doença. Os estoicos sabiam disso — e nunca se agarravam ao que é exterior, pois sabiam que tudo o que vem de fora será inevitavelmente perdido.
«A alma é tingida com a cor de seus pensamentos.»
— Marco Aurélio
Por isso, investiam dentro de si — na construção de um «eu» sábio. As virtudes, já mencionadas, são nossas, pois obedecem à nossa consciência. A maior de todas as apostas que podemos fazer é esta: investir em nós mesmos — no conhecimento, na experiência, na autodisciplina e no desenvolvimento das virtudes.
O Futuro é dos Estoicos!
Pode uma filosofia com mais de dois mil anos continuar a ser relevante? A experiência mostra que sim. Inúmeros livros e estudos comprovam: o estoicismo continua a funcionar nos dias de hoje.
Não é por acaso que empresários como Mark Zuckerberg, Jack Dorsey e Jeff Bezos aplicam abertamente os princípios estoicos tanto nos negócios como na vida pessoal. E, como se pode ver, as suas empresas prosperam.
Mas não se trata apenas de nomes famosos. Milhares de pessoas comuns têm melhorado as suas vidas adoptando uma perspectiva estoica.
A minha própria experiência é um exemplo disso. Após mergulhar no pensamento estoico, comecei a olhar de forma diferente para tudo o que me rodeia. Será que o que faço tem realmente importância? Se hoje fosse o meu último dia, valorizaria mais as pequenas coisas? O que é que me pertence, de facto? Em reflexões como estas, o mundo começa a revelar-se sob uma nova luz.
Por isso, não importa de onde vem ou qual é a sua religião. O estoicismo é sempre uma oportunidade de ver a vida de outra forma. Não é uma religião, nem uma moda passageira. É uma forma de viver. E a escolha é — e será sempre — sua.